quinta-feira, junho 28, 2007

Balada do mar partido

Little girl have I told you
how you light up my life
come and lay down beside me
come and thrill me tonight
do you wanna?


Soa por vezes a Belle & Sebastian (por razões óbvias), mas também a Western spaghetti, a Cohen ou a Nick Cave colheita Boatman's call. É Ballad of the Broken Sea, é Isobel Campbell e Mark Lanegan, e é o que tem tocado por aqui.

quarta-feira, junho 13, 2007

Ir e voltar

Já sabia que o aeroporto de Frankfurt era grande, mas embarcar na porta A14, levantar voo, e passado uma hora estar de volta na porta A17 nunca me tinha acontecido.

(a meio do voo para Viena voltamos para trás devido a um problema técnico; ao que tudo indica, tratou-se de uma partida do destino para dar oportunidade à Naoko - vinda de Tóquio para o mesmo evento que eu - de meter conversa).

domingo, junho 10, 2007

Marketing

Ouvido em frente a uma barraca de S. João:
- É comprar rápido antes que chegue a ASAE e leve tudo...

sexta-feira, junho 08, 2007

Andrew Bird

Sala já quase cheia à espera do início do espectáculo e o lugar ao meu lado direito, ali na 2ª fila, ainda vazio. A conversa já é repetida: ninguém se quer sentar ao teu lado, e tal, ah, vais ver a gaja boa que se vai sentar aqui (sim, nós homens somos assim infantis; mas deixem-nos, era o dia da criança). Enfim, a brincadeira do costume.

Com a diferença que destava vez não foi brincadeira.

Ao fundo da fila, fazendo as pessoas levantaram-se para conseguir passar, vem ela, direitinha ao meu lugar. Com o mesmo olhar perdido da Milla Jovovich no 5º elemento, mas com o cabelo curto como a Natalie Portman aqui há uns tempos. Sentou-se ao meu lado. Os olhos, grandes, destacam-se numa face de nariz e boca pequeninos. A orelha esquerda discute com o pescoço qual merece ser trincado primeiro, e ambos apresentam argumentos muito convincentes. A camisa, marota, não esconde um soutien pérola, e lá dentro uns seios pequenos não parecem contentes em estar presos, e tentam também sair e mostrar-se. Aos calções pela virilha seguem-se pernas longas e reluzentes. As sandálias de dedo mostram todo o pé, e duas vezes cinco dedos que pedem para ser contados das mais variadas formas.

Era nisto que pensava quando me apercebo que o espectáculo já começou. Os restantes espectadores pareciam estar atentos aos músicos, numa espécie de alucinação colectiva que os fazia acreditar que o mais interessante daquela sala estava em cima do palco.

E deve ter sido um concerto muito bom. Sim, deve ter sido, porque lembro-me de por breves momentos ter deixado de pensar no soutien pérola para ouvir com a atenção possível o violino de Andrew Bird. Tenho ideia que cheguei a esquecer brevemente os olhos grandes na face pequenina, para ouvir o som que ecoava na sala e me fazia lembrar um Jeff Buckley que tivesse aproveitado estes últimos anos, menos agitados, para aprender a tocar violino. Recordo-me de ter por instantes deixado de ouvir a discussão entre a orelha esquerda e o pescoço, para escutar o assobio mágico que nos faz duvidar se Bird é o seu nome de família ou uma alcunha bem escolhida. A passos deixei de imaginar até onde poderiam aquelas pernas levar alguém, para ouvir um pouco do pop-que-não-é-pop que se ia fazendo naquela sala.

Deve ter sido um concerto muito bom. Mesmo muito bom. Só tenho pena de não ter podido estar presente.

(braga, 1 Junho 2007)

segunda-feira, junho 04, 2007

Maldoror

Mal ou bem, os mão morta nunca foram associados a intelectualidade; prova disso, de certa forma, era a estranheza que se notava quando alguém ficava a saber que o Luxúria Canibal da noite bracarence era de dia o advogado Adolfo Macedo.
Com a idade, no entanto, também os grupos vão ganhando necessidade de se fazerem respeitar, e os Mão Morta têm, parece-me, percorrido bem esse caminho: assim foi com Heiner Müller aqui há uns anos, e assim é agora com os Cantos de Maldoror.
Parece que o Conde de Lautreamont se tem que ler na adolescência, e deve ter sido por falhar aí que hoje este tipo de literatura não é exactamente my cup of tea. Ainda assim, foi um espectáculo bem conseguido, por exemplo com um cuidado guarda-roupa e curiosos efeitos como o Luxúria a filmar-se e, em tempo real, a projectar nas suas costas o interior da própria boca. Não é para qualquer grupo encher o Teatro Circo em dois dias consecutivos com um espectáculo de hora e meia de monólogo (interrompido apenas raramente pelo resto do grupo), e só se explica por uma já longa carreira de sucesso dos Mão Morta, sempre intimamente ligada à cidade de Braga.

(braga, 11 maio 2007)